domingo, 23 de outubro de 2016

RESPOSTA A ESTUDANTE SULISTA

Um pouco de Nordeste, um pouco do Brasil.


Conectando-se com o mundo através dos veículos de comunicação existentes somos obrigados a saber de tantas coisas que às vezes construiríamos muito mais se não soubéssemos. Comovido não só com as idéias da moça que se transformou em ícone nacional por usar a internet para fazer suas colocações a respeito dos nordestinos, como com todas as pessoas que comungaram com as suas idéias, me mantive em uma viagem frenética de perdição histórica sem mesmo acreditar que estava no século XXI.
Desprezando o fato de tratar-se de uma estudante de Direito, defensora da ética, justiça e paz social do País e eu um simples nordestino fanático pela minha região, sou obrigado a discordar com o seu discurso, procurando, no entanto, entender os seus motivos, que advém de uma compreensão histórica errônea da composição política do País.
Nós Nordestinos, não nos sentimos ofendidos com as colocações da estudante, haja vista que somos orgulhosos da nossa região e também do nosso País, pelo contrário, nos mantemos jubilosos e felizes por ter contribuído em massa com o desenvolvimento do País na construção da Megalópole chamada São Paulo, em um tempo onde a política nacional era controlada pelo Café e o Leite (São Paulo e Minas Gerais) e o Nordeste banalmente esquecido e abandonado nas vertigens do tempo. Não foi a seca que obrigou vários nordestinos a deixarem seus rebanhos e plantações para migrarem em direção ao Sul, e sim um avultado descaso do Poder Público Nacional para com o Nordeste em prol do desenvolvimento sulista do País. Emigrávamos em busca das oportunidades que não tínhamos, prova de que não somos acomodados nem passivos mediante as dificuldades da vida. Foi à esperança de obter do Sul o que deveríamos ter em nossa terra em uma distribuição política igualitária, que impulsionou os nordestinos de cabeças chatas e olhos arregalados a saírem no último pau de arara de sua terra, sem eira nem beira e construírem riquezas de Minas Gerais a São Paulo.
Povo forte, resistente, sonhador e rico culturalmente. Desse Nordeste seco e ingrato, nasceu o maior Bloco de carnaval do Mundo, o maior São João e a maior Feira, nasceram poetas da música que percorreram o País sem nunca distanciar o coração de sua terra, de seu Exu, da Bahia de Caetano e Bethânia, do Ceará de tantas patativas que voam sobre os Assarés imortalizando poetas e cantadores que nunca foram a uma escola, que fizeram da lida nordestina um conto popular que rendem boas valias as redes televisivas sulistas que fizeram do Nordeste pedra da essência para as suas audiências.
Com a ousadia da palavra, acima de tudo vos relato um Nordeste íntegro, que nunca esteve completamente envolvido nas corrupções que corroem a engrenagem do País, que fizeram de um homem que emigrou com apenas um sonho no coração, Presidente da República, marcando um novo tempo com um nordestino no Poder. Uma região marcada pela discriminação social, analfabetismo e pobreza, terra de cabra macho sim senhor, que ajudou a eleger a primeira mulher presidente do nosso País, quebrando velhos preconceitos e mudando a história política da nação.
Realmente, existe certo paradoxo nessa história, todavia, o meu Nordeste descortina para um novo tempo e isso é inovador e temeroso para alguns. Por isso, procuro entender as emoções da estudante de Direito Sulista, é difícil controlar nossos questionamentos quando nos sentimos ameaçados, quando pessoas que julgávamos inferiores nos surpreendem com suas potencialidades, mas reforço, para aqueles que conhecem a história social e política do País, só temos motivos para comemorar, porque o Nordeste só cresce junto com o Brasil e o Brasil só desenvolve-se com a ajuda do Nordeste, nos complementamos enquanto nação e País. A respeito das políticas públicas compensatórias que nos envolvem com rótulos de bolsas, é apenas uma restituição do muito que nos foi tirado, lamento ratificar, mas em relação à parcela histórica investida no Sul pelo governo, o Nordeste ainda tem muito que receber para nos tornarmos iguais na partilha dessa herança.
Todavia não estamos ofendidos nem tampouco discriminados, somos Nordestinos e isso já basta para garantir a nossa felicidade. Enquanto o Sul, com a ajuda dos Nordestinos, é claro, tornar-se muito mais desenvolvido e caminha com o Brasil em prol do Progresso, o Nordeste persiste com sua contribuição, porque forte é o povo, seja qual for à missão.
Apreciando uma boa buchada de bode ao som do velho frevo de Capiba, o Nordeste treme como peça fundamental na engrenagem do País. Somos todos um só povo, uma só nação, que guarda no coração um único sonho democrático de ver o futuro internacional sorrindo para o nosso País, Nordeste, Sul, Norte, Centro Oeste e Sudeste, somos uma só cara pintada com as cores da Democracia, nos amando e nos respeitando como brasileiros.
Temos direito de votar e escolher quem queremos para assumir a chefia do País (Eis a Democracia Republicana) e também de falar e escrever o que desejamos, o que não pudemos é usar da ignorância e da emoção de perca para agir com preconceito ou discriminação com aqueles que são nossos irmãos.
E a respeito da futura estudante de Direito Sulista, que deverá ser quando formar-se defensora da ética, da justiça e da paz social e também de todos os que comungam com as suas idéias, nós nordestinos e brasileiros ufanistas a perdoamos pelos seus não pensados comentários, acreditando na renovação social do ser humano, apenas receitamos:

Contra a ignorância, não há nada que um livro de história não resolva.